domingo, 14 de agosto de 2011

“O intuito de Inocêncio era me destruir”

MANOEL GUIMARÃES
Há mais de seis meses longe da Assembleia Legislativa, o ex-deputado estadual Esmeraldo Santos (PR) não desiste de voltar. Ele foi declarado inelegível após cair na Lei da Ficha Limpa por contas rejeitadas. A lei acabou não valendo para 2010, mas o republicano acabou perdendo o prazo para recorrer. O episódio rendeu mágoa com o advogado e o presidente estadual de seu partido, o deputado federal Inocêncio Oliveira. “O intuito de Inocêncio era acabar comigo”, ataca. Nessa entrevista, Esmeraldo revela que pretende sair candidato a prefeito em São Caetano, e que pode trocar de legenda. O ex-parlamentar não titubeou em dizer que o PSB do governador Eduardo Campos é sua primeira opção.

No ano passado, o senhor teve uma votação para se reeleger deputado estadual, mas acabou caindo na Lei da Ficha Limpa. Essa lei caiu, mas o senhor perdeu o prazo para recorrer, e terminou inelegível. Como está essa pendência jurídica?

Estamos aguardando a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Foi lá que infelizmente houve uma ação contra mim. Houve uma coisa que lamentavelmente me deixou de fora da Assembleia. Eu tinha um advogado, chamado doutor Luiz Galindo, que também era o advogado do PR nas eleições de 2010. Ele tinha um prazo para recorrer de uma decisão monocrática no TSE. Quando eu soube dessa decisão, liguei para ele, que me disse que já estava com a peça pronta e iria dar entrada pessoalmente em Brasília no outro dia. Ele perdeu o prazo, e depois outros dois prazos. Nenhum advogado pode perder um prazo, quanto mais três. Lamentavelmente, fiquei de fora, e os meus votos foram anulados. Sou o terceiro suplente, entraria tanto pelo partido quanto pela coligação.

Esse imbróglio repercutiu na sua relação com o PR?

Minha situação no PR é a seguinte. Já deixei bem clara minha insatisfação há 60 dias, em uma reunião com lideranças políticas, deputados, prefeitos e vereadores no Recife. O partido não me deu nenhuma condição, não me ajudou com nada. Quando o Ministério Público recorreu ao TSE, o deputado Inocêncio Oliveira disse que não me preocupasse, porque ele tinha dois advogados em Brasília. Só que não resolveu nada. Logicamente eu não posso ficar satisfeito, sabendo que o responsável por isso foi um advogado que fazia parte do PR na eleição de 2010.  Isso me deixou constrangido, revoltado, chateado, nervoso. E não só a mim, mas aos 33.152 eleitores que votaram em mim. Estou fora da Assembleia por conta da irresponsabilidade de um advogado. Não posso atribuir ao partido.

A reunião serviu para acalmar os ânimos?

Nessa reunião no Recife, foi quando desabafei. Disse muito mais no encontro do que estou dizendo aqui. Disse ao presidente que ele gosta de gente que babe ele. Se eu ficasse babando, aí eu era bom. O PR não me ligou, o deputado Inocêncio Oliveira não foi solidário em nenhum momento comigo, não me ajudou com nada. Cheguei a dizer na reunião que estava em situação muito difícil. Até na minha casa estava faltando comida. Acho que deveria ter ajuda pela parte deles. Eu, sem mandato, vou atrás das minhas lideranças para dar uma satisfação. Imagine quem está lá em cima no poder, tendo seus 200 mil votos? Deveria fazer mais. Todo mundo conhece o deputado Inocêncio Oliveira. Ele é forte no Governo do Estado, é forte no Governo Federal. Não seria nada demais que ele tivesse pelo menos me dado uma assessoria para me manter. Era o mínimo que ele poderia fazer.
Nesse tempo, ninguém do PR lhe procurou?
Ninguém. Para ser justo, fui procurado recentemente pelo doutor Roldão Joaquim (presidente da Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados de Pernambuco - Arpe), que é um amigo. Estivemos conversando, almoçando no Recife, e ele me perguntou da minha situação. Contei tudo, e ele ficou de conversar com o governador. Ainda não tive resposta. Na questão eleitoral, estou bem em São Caetano. Em todas as pesquisas, sou primeiro lugar. Mas é a questão da minha sobrevivência.

O senhor considera então que foi traído pelo partido?

Não sei o que acontece. Tem pessoas que são bem vistas, outras que não são. Talvez meu grande erro seja dizer a verdade. Não gosto de bajular ninguém. Gosto de ser sincero, de fazer as coisas com seriedade, com respeito, com humildade. Minha humildade faz com que as pessoas achem que eu sou besta. Por isso, não dão a importância que eu mereço.

Quando começaram seus problemas com o PR? Só depois que o senhor não renovou o mandato?
Não, já eram de antes. Tudo começou em 2008, quando o próprio presidente do PR me ofereceu uma vaga na Mesa Diretora da Assembleia para o biênio 2009-2010. Quando se aproximaram as eleições, Inocêncio disse que Manoel Ferreira queria a Mesa e que eu ficaria com a liderança do partido. Depois, houve insistência de Henrique Queiroz, que ficou como líder, e eu iria para a Comissão de Assuntos Internacionais. Mas, nas vésperas da eleição, eu não tinha Mesa nem liderança nem comissão. Henrique acumulou a Mesa e a comissão. Fiquei como vice-líder do PR. Fiquei sentido, magoado, porque acho que um homem tem que ter palavra. Não pedi nada para Inocêncio. Se não tivessem me prometido nada, estava tudo certo, porque eu não pedi nada. Mas me prometeram, encheram meus olhos e achei que poderia contar com aquilo, não por soberba, mas confiança. Todo mundo quer crescer.

Não tem mais como recuperar no PR?
Tem como recuperar, mas vai depender deles me reconquistar. Essa é a verdade. O presidente Inocêncio Oliveira quando me vê, faz festa, é só alegria. Mas atitude é coisa que a gente tem que ter. Estou desprovido de tudo. O partido sequer fez uma ligação para dizer que está solidário a mim.

Antes do PR, o senhor se elegeu prefeito em 1996 pelo PV e passou anos no PTB. Sente algum arrependimento da troca de legenda?
Vou ser sincero. As pessoas até pedem para que eu não fale isso, mas falo o que o coração manda. Nunca me arrependi de nada que fiz na vida, mas eu não deveria ter saído do PTB. Mas eu era marinheiro de primeira viagem. Pela primeira vez, chegava numa eleição a nível estadual. Eu não tinha que sair. Saí em 2006, porque o PTB apoiou Humberto Costa (PT) na primeira hora, e eu apoiei Eduardo Campos (PSB). Fiquei magoado, porque como votei em Eduardo, eu estava por cima. Me achei no direito de sair do PTB, por espontânea vontade. E encontrei casualmente o deputado Inocêncio Oliveira. Disse que estava chateado, e ele me convidou. Foi uma conversa rápida, e fui para o PR.

E então a roda girou...
Hoje estou abandonado. É onde dói. Em 2008, banquei vários candidatos a prefeito, como em Bezerros e Cachoeirinha. Fiquei liso, lascado, não me deram sequer uma bala para chupar, uma ajuda de nada Inocêncio me deu. O intuito de Inocêncio era acabar comigo. No guia eleitoral, minha aparição era relâmpago. Infelizmente só tenho queixa e nenhuma alegria. A política tem dessas coisas. Investi nos candidatos e fui traído. Não me deram municípios, pelo contrário, tiraram pessoas de mim.

Como o senhor vê a relação do PR com o Governo do Estado?

Ultimamente está bem. Mas Inocêncio já esteve querendo romper com o Governo. Na campanha de 2010, ele disse nos jornais que não iria para o chapão governista. Foi quando procurei o governador e disse que iria para o PSB, porque, se o PR não fosse para o chapão, eu iria nadar e morrer na praia. Eu sabia que Sebastião Oliveira teria mais de 70 mil votos e Henrique Queiroz teria de 50 a 60 mil votos. José Marcos de Lima foi uma surpresa, achei que ele teria mais votos. Esperava que Manoel Ferreira tivesse de 40 a 50 mil votos, e que Alberto Feitosa, que vive até hoje debaixo das asas de Inocêncio, teria 50 mil votos. Então o que eu iria fazer em uma chapinha só do PR? Se tivesse ficado, estava frito.

Hoje, o senhor se sente livre para trocar de legenda?
Estou abandonado, desprezado. Fui humilhado com a atitude do advogado de perder um prazo. Isso repercutiu mal, meu eleitor está muito insatisfeito com essa situação.

E qual seria o seu futuro político?

Em 2012 eu pretendo, se Deus quiser, sair candidato a prefeito de São Caetano. Essa é a base do nosso projeto. Mas como diz o matuto no Interior, não podemos colocar o carro na frente dos bois. Se eu tenho uma pendência na Justiça Eleitoral, tem que se resolver primeiro essa pendência. Eu tenho que voltar para a Assembleia, e creio que vou voltar. Depois é que vou conversar com o pessoal, com as lideranças, botar na balança os prós e os contras. Também vou conversar com o governador.

Mas falta menos de dois meses para encerrar o prazo de filiação partidária...

Realmente, tem essa questão da data. Está muito em cima do prazo. Vamos aguardar e ver o que vai dar.

Mas a primeira opção é o PSB, partido do governador Eduardo Campos?

Com certeza.

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