domingo, 23 de janeiro de 2011

“O prefeito é a própria turbulência”

RENATA BEZERRA DE MELO   
Cotado para disputar a Prefeitura do Recife em 2012, o presidente estadual do Democratas recém-eleito deputado federal, Mendonça Filho abriu, esta semana, as discussões, no partido, sobre o processo eleitoral que se avizinha. A expectativa é dobrar o número de prefeitos filiados (hoje são 18) e “ter um papel relevante na Região Metropolitana e, especialmente, no Recife”. Na leitura do dirigente, o tema eleições foi antecipado pelo próprio prefeito João da Costa (PT), a quem ele considera “a turbulência” em pessoa. Quanto ao Recife, enxerga, hoje, “uma cidade perdida no tempo e no espaço”. À Folha, pontuou aspectos da relação “elevada” com o ex-prefeito João Paulo (PT) e do trato “cordial” e “respeitoso” com o comando do PTB. No entanto, nega “conversa estabelecida” sobre eventual aliança com o petebista, votado por democratas em 2010.
Já é possível traçar planos para oposição rumo a 2012?
Cada partido dentro do quadro da oposição vai tentar se organizar. Nós já iniciamos as discussões internas dentro do Democratas, visando ao processo eleitoral de 2012. Já tivemos a primeira reunião (17 de janeiro). Faremos uma outra maior em fevereiro. Temos aí um início de planejamento com expectativa de lançarmos 50 candidatos a prefeito. Nós temos, hoje, 18 prefeitos filiados ao Democratas e pretendemos dobrar o número na eleição de 2012 e ter um papel relevante também na Região Metropolitana, especialmente no Recife.

Para o Recife, seu nome está na agulha?
Seria precipitado discutir nomes. O momento é de discutir o processo. O partido agora, no caso do Recife, tem que se organizar. E um palco extremamente relevante da politica pernambucana é a capital do Estado. É uma cidade que está aí no 11º ano sob o comando das forças do PT e, evidentemente, que a gente vai se organizar para a disputa de 2012. Mas o momento é de priorizar a temática que diga respeito ao cidadão recifense, problemas que afetem o dia-a-dia da população. Como anda a Saúde no Recife? Infelizmente, vai mal. A Educação na capital pernambucana é uma das piores das 27 capitais do Brasil, segundo dados do próprio MEC. E, mesmo em se falando de um governo de continuidade, tem obras que vieram da gestão anterior, algumas até, de forma inusitada, foram inauguradas, e vão ser inauguradas de novo, como é o caso do Parque Dona Lindu. Há outras cuja promessa de inauguração já foi adiada tantas vezes e ainda estão aí inacabadas, como é o caso do viaduto Capitão Temudo.

A ideia é trabalhar desde já para não deixar para última hora?
Na verdade, não é trabalhar com foco na eleição. O partido deve e tem feito oposição. Se você analisar a partir da liderança da oposição na Câmara Municipal, que é da vereadora Priscila Krause (DEM), tem tido desempenho excepcional, muito bom, de cobrança com relação àquilo que foi promessa e compromisso de campanha. Àquilo que não foi realizado, àquilo que afeta do dia-a-dia do cidadão recifense. Então, essa é a missão: de um lado, cuidar de fiscalizar, de outro há de se discutir também a cidade, seu futuro. Como se vê o futuro do Recife daqui a dez anos? É uma cidade que está, infelizmente, hoje perdida no tempo e no espaço. Você vê, hoje, o Brasil aumentando o ritmo de crescimento. Pernambuco, desde as bases plantadas pelo Governo Jarbas Vasconcelos/Men­donça (1999/2006) que, em muitos aspectos, têm tido continuidade na atual gestão. Mas o Recife é uma cidade que se esvazia, a cada ano, e que, infelizmente, é como se fosse uma ilha dentro do cenário nacional e regional de crescimento e desenvolvimento.

O prefeito João da Costa reassumiu planejando renovação, mas o atrito com o ex-prefeito João Paulo (PT) rouba a cena e o debate de 2012 acaba antecipado.
Eu pergunto: quem antecipou o debate de 2012? Foi o próprio prefeito João da Costa. Aliás, voltou em alto estilo, no que pese eu fazer um ressalva: o desejo de que ele esteja absolutamente bem do ponto de vista de Saúde. Mas foi um desastre, do ponto de vista de condução política, a forma como ele se reinseriu no cenário político pernambucano, declarando uma guerra pública contra o seu ex-padrinho político, que é o deputado federal e ex-prefeito João Paulo (PT).

O Democratas já ensaiou aproximação com João Paulo (PT) assim que os problemas dele no PT se iniciaram...
O que há, na verdade, é que mesmo tendo tido algumas divergências, até muito acaloradas, no processo eleitoral de 2008, minha relação pessoal com João Paulo sempre foi elevada, cordial, franca e boa.

O PSDB não quer Tony Gel líder da oposição na Assembleia. A relação do PSDB com o DEM rachou completamente?
Não tem sido uma relação fácil, particularmente, na Assembleia e nesse começo. As discussões têm sido bastante difíceis. Mas não quer dizer que não possa ter um mínimo de convívio e de harmonia.

Mínimo de convívio significa que, daqui para frente, os projetos caminham separados?
Não sei necessariamente. Por exemplo, no caso da deputada estadual Terezinha Nunes (PSDB) e o deputado estadual Augusto Coutinho (eleito federal) fizeram uma dobradinha, ao longo dos últimos quatro anos, muito positiva. Diria que os dois foram as principais vozes da oposição no Legislativo Estadual. Então, imagino que esse momento de dificuldade na formação e organização das forças de oposição na Assembleia sejam restritos ao início da legislatura.

Ficam o PMDB e o DEM unidos na oposição?
O diálogo com o PMDB sempre foi muito bom, muito positivo. Mesmo quando tivemos oportunidade de estar juntos nas últimas eleições, e foram poucas as que nós estivemos separados... Creio que em 1994, quando Gustavo Krause saiu candidato a governador e Cid Sampaio também; e em 2008, as duas eleições que saímos separados. Na última eleição de governador (2010), indicamos a deputada estadual Miriam Lacerda (DEM) para vice do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) e estivemos juntos com ele do início até o final da eleição, de forma absolutamente solidária.

Tem tratado de eleição com o deputado Raul Henry?
Não. Falamos por telefone algumas vezes, mas foi o período no qual ele também entrou de férias e esses contatos foram mínimos. Mas a gente vai ter muito espaço para conversar ao longo do ano. E esse quadro, no contexto das principais disputas no Estado, só vai estar claro, ou mais claro, a partir de 2012.

Em 2008, o senhor e  Raul Henry lançaram candidaturas independentes. Os planos são de repetir a fórmula, ou, de antemão, há rejeição à tática de dividir, já que em 2008 não houve sucesso?
O quadro está tão incerto, que qualquer comentário seria mera especulação. A missão hoje é que  tenha o mínimo de articulação, de atuação em termos de oposição. E isso o Democratas vai buscar com o PMDB, mesmo com o PSDB e o PPS. Ao mesmo tempo, cada partido, individualmente, há de fazer seu dever de casa. Ou seja, buscar seu fortalecimento, a identificação de nomes para as disputas proporcionais no Recife, Região Metropolitana e Interior, e nomes para os cargos majoritários.

O senador Jarbas Vasconcelos sinalizou a perspectiva de liderar esse processo?
Jarbas é um nome absolutamente relevante dentro das forças de oposição. Esse processo vai começar praticamente agora em fevereiro. A legislatura sequer começou em níveis estadual e nacional. Estou tomando posse como deputado federal na próxima semana. Tem uma agenda de definições nos parlamentos que é a composição das lideranças, oposição, governo, partidos, mesas diretoras. Só a partir daí acho que agenda política começa a ganhar seu próprio ritmo.

Muitas andanças no período de férias?
Andei. Fiz algumas viagens ao Interior, agradecimentos, contatos políticos, eventos específicos. Mas nada partidário, muito mais um processo de alimentação das minhas bases políticas.

E voltou de Brasília para subir o Morro no dia de Nossa Senhora da Conceição (8 de dezembro). Não são passos de um candidato a prefeito?
(risos) Subir o Morro é algo que eu faço há anos. Então, não muda. Mas qual o problema? Se eu subo o Morro todo ano, um ano que é não eleitoral... Eu tenho muita preocupação de que certas atitudes não sejam restritas ao ano da eleição, quando está disputando voto. Do contrário, a população vê de forma atravessada.

Em 2010, houve municípios em que democratas votaram no senador eleito Armando Monteiro Neto (PTB). Há chances de aproximação entre o DEM e o PTB daqui em diante?
Não tem essa conversa estabelecida.

Também não há dificuldades...
Nossa relação com Armando sempre foi cordial, respeitosa. Mas, do ponto de vista político, a posição do Democratas foi clara em 2010: ficou com (os candidatos ao Senado) Marco Maciel (DEM) e Raul Jungmann (PPS).

Frente à rearrumação vigente, com o PTB devolvendo as secretarias ao prefeito João da Costa, em sinal de que deve caminhar independente em 2012...
Não sei exatamente as razões que nortearam o PTB. Não tenho informações que possam me orientar em relação à motivação. O que sei é somente pelos jornais.

Apesar do prefeito estar passando por esse momento complicado, pegou uma turbulência....
Ele pegou não. Ele é a turbulência (risos).

Apesar dos problemas que o prefeito vêm enfrentando, a máquina pode ser um fator complicador novamente para oposição?
A máquina sempre tem um peso. Há de se considerar que a máquina tinha peso (em 2008), ele tinha o bloco governista absolutamente unido, tinha um prefeito que estava no ápice do prestígio, o então prefeito João Paulo (PT) se desdobrando e redobrando em esforços para elegê-lo. Não havia no seu entorno nenhuma divergência do ponto de vista de futuro político. Todos professavam o interesse no então candidato à reeleição, governador Eduardo Campos (PSB). Você tem o cenário de 2012, que é justamente o contrário de 2008: tem fracionamento forte nas forças do PT internamente, partidariamente falando; tem ausência de uma liderança de peso como João Paulo foi para tutelar o, então, candidato João da Costa; e tem, hoje, cada um daqueles que compõem parte da base de apoio do atual governador, pensando no seu projeto de 2014. No quadro nacional, o ambiente econômico não é o mesmo. A presidente Dilma Rousseff (PT) vai ter que fazer ajustes necessários. A inflação começa a subir, o Banco Central eleva taxa de juros... Tem um quadro de desaceleração, arrocho, dificuldades. Todo esse caldo geral econômico mais a situação política significa que as facilidades de 2008 (para governistas) não seriam as mesmas em 2012.

E as perspectivas para Câmara Federal?
Muito animado. Tenho uma pauta de iniciativas legislativas que pretendo apresentar. Dia 2 estarei apresentando um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) sustando o parecer normativo da AGU que respaldou a decisão do ex-presidente Lula de manter o terrorista Cesare Battisti no Brasil. E tenho outros temas que pretendo abordar, dar ênfase à questão da Reforma Política. Até porque eu acho que o Barsil precisa modificar a forma de eleição dos nossos parlamentares. Alguns temas que afetam diretamente a vida das pessoas, como salário mínimo. Pretendo apresentar uma emenda à Medida Provisória que fixou o salário mínimo de R$ 545, para R$ 600, que era, inclusive, compromisso nosso de campanha com (o ex-presidenciável) José Serra (PSDB), e a correção da tabela do Imposto de Renda, que é um tema que afeta a classe média.

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